O Rádio no fim!

O desenvolvimento da comunicação acompanha a evolução do conhecimento social, com suas novas necessidades de interações, na dependência de meios para trocas de experiência, revolucionando o modo de pensar e conhecer. O rádio é um veículo clássico deste período da materialidade do impresso para o recurso da fala a longa distância, no começo do século passado.

Em qualquer lugar, uma pessoa poderia estar conectada com comunidades, na diversidade de conhecimento e pensamento, na formação de realidades. A ampliação do ouvido e da voz, para as trocas de experiências que emergiam em um período de pouca comunicação e poder, dominado por algumas famílias tradicionais.

No Brasil a radiodifusão tem início no dia 7 setembro de 1922, como sinal de um novo ciclo cultural brasileiro. Um país rural deixou o único cenário do campo para o acesso à fala e informações dos grandes centros culturais. Uma magia que contagiou milhares de pessoas, ao ponto de imaginar que em todas as casas haveria um aparelho movido à pilha, em um país ainda iluminado com lamparinas. À frente de pequeno dispositivo, seria possível o acesso a várias estações, das chamadas AMs, as tradicionais frequências de Amplitude Modulada.

Neste ano o Brasil comemora o centenário do surgimento do rádio no Brasil, que se mantém fazendo vibrar suas frequências sonoras no ar, gerando informações, entretenimento e relacionado culturas entre centros e periferias – imagem Marcello Casal Jr./Agência Brasil.

As ondas do meio rebatiam nas alturas atmosféricas e se espalhavam por todas as regiões, inclusive atingindo outras nações vizinhas, gerando disputas políticas em torno da capacidade de dominar a mente de um povo. Com o passar do tempo, vem o radiojornalismo, as radionovelas, os famosos programas de auditórios, com milhares de pessoas em uma ampla sala e milhões de ouvidos nas distâncias grudados no bom humor. O profissional do rádio passa a ser o grande astro social. Um tempo de romantismo e viagem por meio da comunicação radiofônica.

O surgimento da televisão, em 18 de setembro de 1950, tirou o brilho do rádio, mas não conseguiu esvaziar sua importância e audiência, ao contrário. As rádios FMs, as chamas Frequências Moduladas, nos anos 80, permitiram um som de qualidade, o qual conhecemos como estéreo, quando há efeitos especiais para uma audição que reproduz o ambiente natural. O rádio prioritariamente musical, mais adiante cede espaço para o radiojornalismo com 24 horas de notícias, na década de 90.

Como a comunicação é repassada de geração em geração, efetivamente alguns ciclos históricos ficaram para trás, apesar de deixar memória. A cada período, novos meios surgem com recursos inovadores, como é o caso da rede de computadores, a qual integra todos os veículos num só espaço. Nesta dinâmica, o bom amigo rádio passa a merecer outros formatos, inclusive se aproximando da televisão com programas transmitidos ao vivo dos estúdios, com entrevistas, debates.

Recentemente o rádio conhece um novo gênero, os chamados podcasts, que de fato não conseguem a amplitude do veículo, mas tem a vantagem de permitir acesso a informações aprofundadas ou como espaço de entretenimento, acessado a qualquer hora, podendo ser ouvido várias vezes. Neste formato, permite em um lapso de tempo falar com audiência singular, mas longe da contagiante capacidade de improviso em tempo real radiofônico.

Há um ponto importante nesta comemoração dos 100 anos do rádio no Brasil, o veículo continua vivo, com ondas sonoras enviadas para regiões longínquas com suas culturas diversas, com linguagem plural, ligadas pelo aparelho que podemos considerar a voz de Deus, pois, argumenta, mas não permite enxergar o espírito que fala. O veículo ainda liga o excluído da urbanidade metropolitana, de lugares remotos, com a sociabilidade moderna.

O rádio no fim, como destacado no título acima, se multiplica com diversas possibilidades tecnológicas, mas não se deve esquecer o revolucionário veículo com sua singularidade para a formação cultural brasileira. Assim, podemos avaliar que as transformações sociais passam pela comunicação e suas tecnologias, como algo natural, num processo evolutivo permanente, graças a uma sociedade dinâmica.

O ser brasileiro tem signos veiculados nas ondas sonoras de um meio, que deixa suas marcas pelas frequências ininterruptas, as quais estarão no ar vivas e eternamente.

Autor: Antonio S. Silva

Jornalista, doutor pela UnB e professor da (UFMT, com mestrado pela PUC/SP e Docente no curso de Jornalismo da UFMT. Em essência, acreditamos que é necessário o diálogo para construirmos, democraticamente, um país melhor.

Uma consideração sobre “O Rádio no fim!”

Deixe o seu comentário