A verdade entre Bolsonaro e a Folha

nodebate/análise – Quantos textos escrevemos para avaliar os procedimentos da mídia noticiosa na política. Algumas afirmações merecem ser repisadas, considerando consensos históricos do processo de comunicação. As empresas de comunicação não são imparciais, grandes indústrias da comunicação, têm relações com grupos políticos e dos setores financeiros e econômicos.

A midiatização não diz respeito somente aos interesses de mercado, mas envolve o religioso, o cultural, o ideológico e a construção de visão de mudo, de modo a influenciar uma sociedade inteira para determinadas verdades, que ela mesma organiza e defende, ainda que haja o discurso de liberdade de expressão de seus jornalistas e fontes.

Para qualquer governo deverá ocorrer uma disputa pela verdade e posições políticas em decorrência de lugares diferentes, que cada qual se encontra. Importante analisar que nem todas as empresas de mídias são iguais, com os mesmos fundamentos.

Como exemplo está a poderosa Rede Globo, com perspectiva econômica, financeira e cultural, em outro espectro político a Rede Record, ligada à Igreja Universal do Reio de Deus ou mesmo a Rede Católica, na linha da fé, nesta disputa pelos fiéis, em conformidade com sua ideologia religiosa. Evidentemente, que o econômico e religioso nem sempre estão tão distantes do político como se quer no mundo ideal.

Importante notar que o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro tem como lema, vencedor das eleições, “A família acima de tudo e Deus acima de tudo”, que repetiu intensamente e está implicitamente no seu marketing político, como mantra de uma realidade que convence. Um lema a favor e na luta contra todos e tudo.

Em algum ponto nesta reta haverá curvas, envolvendo caminhos distintos para a governabilidade do capitão reformado e as empresas de comunicação. Algumas se adequando precisamente às propostas do novo governo, umbilicalmente, e outras nem tanto. Para àquelas, portanto, a punição e para outras a premiação.

Recepção ingênua

Acreditar, portanto, na imparcialidade da mídia seria mesmo um atestado de ingenuidade. A comunicação com amplitude de vozes, nas disputas, pode permitir o público definir seu posicionamento político, internamente, na mídia se propagando para diferentes indivíduos, formando antagonismos que levam a efeitos na opinião pública, na qual estão diferentes posicionamentos para um consenso político.

Neste sentido, pode estar a vitória de próprio Bolsonaro, numa disputa em que, por anos a fio, a comunicação jornalística tradicional se mostrou rigorosa com seus princípios políticos conservadores, denunciando governabilidade que não fosse adequada aos interesses majoritários, que une determinados consensos ordenados nesta comunicação.

Entre pontos debatidos, insistentemente, por um pool de jornais e articulistas estão: a negação da importância do Mercosul para o Brasil; a afirmação de que o socialismo gera pobreza, ainda que um discurso aceito pelos mais pobres e incautos; desconstrução de uma América Latina como referência para o Brasil, numa disputa com os Estados Unidos e Europa ricos e poderosos. Bem, na conclusão de que o capitalismo praticado pelos grandes centros financeiros como o único caminho de uma sociedade dita civilizada.

Pode-se somar algumas afirmações midiáticas de que a pobreza é uma questão de origem, em alguns instantes de genética, fazendo relembrar uma visão positivista, de históricos filósofos pesquisadores dos grandes centros da civilização moderna, disseminadores de pensamento global por séculos.

Como resultado disso, paradoxalmente, está um sistema político cíclico, com alterações no tempo.

Bolsonaro e a mídia

O governo de Jair Bolsonaro começa com ataques a veículos tradicionais, para quem não dizem a verdade, de posse de referência à citações bíblicas, outro lugar de comunicação e formação de comportamento e pensamento.

O jornal paulista Folha de S. Paulo está sendo punido pelo presidente eleito, como o próprio veículo enfatiza, no sentido de se adequar, o que pode não ocorrer ao longo do tempo, tornando-se uma disputa entre diferentes grupos de poder.

A lógica histórica não leva a concluirmos que vivemos numa sociedade ideal, em que apenas a verdade e tão somente a verdade é parte do processo comunicativo midiático ou político.

O governo eleito por sua vez apossa de sua verdade, com uso de meios de comunicação aliados à esta verdade proferida, como suporte para dialogar com uma sociedade que se mostra, neste momento, conservadora e afeita ao discurso religioso e familiar, na esteira da verdade repetida.

Somente o futuro poderá dizer o que anuncia a opinião pública para momento de conflitos políticos e ideológicos, inevitáveis para uma sociedade viva.

Jornalismo de partido

nodebate – Alguns intelectuais do jornalismo se manifestaram a respeito da imprensa partidarizar-se na definição de pautas, ou seja, seleção previamente dos assuntos que serão publicados; e, de que ângulo serão explorados. O Jornal Folha de São Paulo e “amigos” vêm exagerando nestas práticas em data específicas, como é o caso do impeachment, movimentos políticos na América Latina e eleições.
 
Talvez, para fazer justiça, não deixar o jornal paulista sozinho, a poderosa TV carioca, Rede Globo, usa a mesma estratégica, de maneira explícita, que em circunstância parece incomodar o próprio Jornalista na cobertura.
 
Como exemplo, basta observar as chamadas de capa do Jornal da Família Frias, com títulos que levam a partidarização, com defesa especialmente do PSDB – que dificilmente merece um destaque sobre questões negativas, como o mensalão mineiro e outros escândalos . No entanto, o partido está amparado pela própria mídia nas investidas contra o governo, que no final resulta na defesa de um modelo social, longe da distribuição de renda esperada historicamente pelos brasileiros.
 
No caso da Rede Globo, na semana anterior, numa pauta sobre as dificuldades dos candidatos nestas eleições municipais, no tocante a arrecadação de verbas para o pleito, diante da impossibilidade de obter recursos privados, a fonte do jornalista foi ninguém menos do que Gilmar Mendes. O ministro do STF que se prostrou contra a aprovação da medida no Supremo, pedido vistas do processo que guardou por mais de um ano sem condições de ir à votação entre os pares.
 
No final, se forma grupos de autoridades e jornalismo amigo, no sentido de organizar uma força-tarefa que visa interesses particulares, ainda que explorando recursos e bens públicos. Com a palavra os pensadores do Jornalismo no Brasil.

“Folha” demite 13 jornalistas por problemas financeiros; novos cortes podem acontecer

Revista Imprensa

Alana Rodrigues

O jornal Folha de S.Paulo iniciou no fim da tarde da última terça-feira (4/11) um processo de demissões de seus funcionários. Até o momento, foram realizados 13 cortes e a publicação garante que não haverá mais.

Jornal demitiu 15 jornalistas, mas pode cortar mais profissionais

O jornal também realizou mudanças na redação. O pauteiro de “Poder”, Claudio Augusto, atende agora o caderno “Cotidiano”.

Sem dar muitos detalhes, a Folha alegou aos funcionários que os cortes foram realizados por motivações econômicas. À IMPRENSA, Sérgio Dávila, Diretor Executivo do jornal, confirmou as demissões.O Secretário de Redação, Vinicius Mota, informou que a contratação e saída de funcionários são rotineiras numa empresa do porte da Folha. “O jornal realiza no final deste ano desligamentos pontuais, além de um corte nas despesas de custeio, a fim de ajustar o seu orçamento ao mau desempenho das receitas publicitárias, fruto da estagnação prolongada da economia brasileira”, explicou.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (SJSP) divulgou nota para criticar a medida. A entidade informou que deve realizar uma reunião com a empresa às 11h desta quinta-feira (6/11).

“O Sindicato dos Jornalistas se opõe a qualquer demissão em nosso setor, e, na reunião, expressará sua posição, em defesa dos direitos dos jornalistas (…) Enfrentamos uma luta de fôlego: defender o mercado de trabalho para a categoria, preservando uma atividade essencial para a democracia: o bom jornalismo”, acrescenta.

* Com supervisão de Vanessa Gonçalves.

Cortes na Folha

Folha de S. Paulo/Ombudsman

Razão e insensibilidade

Jornal ignorou o leitor no processo de demissão de dois de seus colunistas políticos mais antigos

Foram muitas dezenas de mensagens, a maioria movidas pelo mesmo espírito: espanto com o fato, indignação com a forma e revolta com o descaso. A demissão de Fernando Rodrigues e Eliane Cantanhêde foi uma operação desastrosa, não só pela perda que impôs aos leitores, mas principalmente pela falta de sensibilidade na condução do processo. O jornal ignorou aquele a quem serve -o leitor.

Os dois colunistas foram demitidos na sexta (7), no desfecho de um corte que ceifou 14 jornalistas e 17 vagas. Na linguagem empresarial, foi um ajuste para adequar os custos inflados por Copa e eleições, os mesmos fatores que, aliados à economia minguante, provocaram queda da receita. No jargão irreverente das Redações, esses cortes, que se tornaram periódicos, são chamados de “passaralho” -porque passam como aves de arribação e provocam revoada em bando.

A lógica que levou à dispensa de dois nomes de primeira grandeza é simples, crua: após sucessivos enxugamentos, as Redações não têm mais gordura para cortar, e a mira se volta para os maiores salários, dos quadros com cargos superiores e/ou maior tempo de casa. Na frieza da planilha, a dispensa de um profissional antigo pode poupar meia dúzia (ou mais) de vagas.

Fernando estava na empresa havia 27 anos; Eliane, havia 17. Numa equipe com mais de 120 colunistas em permanente mutação, eram grifes enraizadas, que formavam o “core” do colunismo da casa. Nomes profundamente identificados com a cara do jornal e com seu leitorado, numa relação de mão dupla que não foi plenamente compreendida nem devidamente tratada.

“Devemos estar todos de acordo que o jornal tem liberdade para dispensar qualquer colaborador. Entretanto, como um organismo que mantém estreito relacionamento com o público, o qual acaba lhe ficando fiel nem tanto por ele próprio, mas por seus porta-vozes, o desligamento deles sem satisfação é como a perda de um amigo, da qual só se fica sabendo através de terceiros. Isso termina sendo um choque”, descreveu o advogado Eliseu Rosendo Nuñez Viciana, de São Paulo.

“O pior é que o jornal não se dignou a explicar as razões a seus assinantes/pagantes. Essa atitude olímpica só serviu para aumentar a desconfiança”, ecoou José Luiz Pereira da Silva, de Mogi Mirim.

Ironicamente, a Folha não se lembrou do “Outro Lado”. Os leitores souberam da saída na própria sexta, por redes sociais e sites (alguns destes mais preocupados em deformar do que informar). O jornal só se manifestou no domingo, mas a reportagem não mencionava razões. Mais uma vez, abdicou de explicar com clareza uma decisão motivada por contingência ruim.

Mau negócio para a imagem institucional. Jornais & jornalistas sabem que não há história contada pela metade: a parte que falta será preenchida por versões de toda sorte. Nesse caso, fomentaram-se até teorias de que as saídas teriam ocorrido por pressão do Planalto. É nonsense gerado pela polarização eleitoral recente. O jornal continua com uma penca de colunistas extremamente críticos ao governo.

Mas é nonsense que o jornal ajuda a alimentar com uma dieta restritiva de informação, visível na resposta da Secretaria de Redação, enviada à ombudsman: “A Folha procura renovar de tempos em tempos parte de seu elenco de colunistas. Às vezes faz isso premida pela conjuntura econômica, outras por decisão editorial. Para dar exemplos recentes, Tati Bernardi entrou no lugar de Barbara Gancia, e Antonio Prata, no de Danuza Leão”.

Por ela, Eliseu vai continuar sem saber por que perdeu seu amigo.

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Vera Guimarães Martins é a atual ombudsman do Jornal Folha de S. Paulo.

A ordem do poder pela informação

Folha de S. Paulo / Ombudsman

SUZANA SINGER

1984

Jornal não tem mais a unanimidade da opinião pública, mas sua proposta precisa ser entendida por quem o critica

Lula, Fernando Henrique Cardoso e a Folha. Os três convivendo em paz. Mais do que isso, embalados em uma mesma campanha. O jornal, crescendo rapidamente em circulação e em prestígio, é uma unanimidade na “sociedade civil”.

O que hoje parece impossível era realidade em 1984. O pano de fundo: as Diretas-Já. A Folha percebeu antes as oportunidades da abertura política e, enquanto os outros veículos da grande imprensa hesitavam, abraçou a causa do voto direto para presidente da República. Conquistou jovens e intelectuais. Virou o “jornal das Diretas”.

Por alguns meses, as páginas de política ganharam um tom militante, romântico e empolgado. A descrição do comício na praça da Sé, de 25 de janeiro de 1984, ocupou praticamente toda a capa do jornal no dia seguinte. O texto afirmava que o verdadeiro “herói” da manifestação foi a “multidão, as 300 mil pessoas que provaram ser possível (e desejável) fazer política com amor, garra e alegria”.

Quando a emenda constitucional que previa a eleição direta não foi aprovada, em abril do mesmo ano, a manchete foi “A NAÇÃO FRUSTRADA!”, assim mesmo em letras maiúsculas, sob uma tarja que convidava o leitor a “usar preto pelo Congresso Nacional”.

Trinta anos depois, parece que estamos falando de outro jornal. A Folha não se engaja mais em campanhas -a última foi pelo impeachment de Fernando Collor-, busca um tom sóbrio em política, e a camaradagem com Lula e FHC terminou quando cada um ocupou a Presidência da República.

Aquele texto sobre o grande comício da Sé não passaria pelo editor e tamanho entusiasmo destoaria até dos editoriais, em geral ponderados e comedidos.

As circunstâncias políticas mudaram radicalmente. É difícil imaginar uma causa que obtivesse um consenso suprapartidário como o que havia para combater a ditadura. Conquistada a abertura, cada um foi para o seu lado e começou a disputa pelo poder, o que é da natureza do regime democrático.

Da mesma forma, a Folha não é mais unanimidade. Muitos dos que se apaixonaram pelo jornal nas Diretas-Já estão hoje entre os seus críticos mais ferozes. Sentem-se traídos pela metralhadora de denúncias e de críticas.

O distanciamento que se tomou dos partidos políticos e dos chamados “formadores de opinião” foi deliberado. Ainda em 1984, quando surfava na empolgação das Diretas-Já, a Folha desafiou os anseios da “sociedade civil” ao não apoiar a candidatura de Tancredo Neves, que disputava com Paulo Maluf a Presidência. Foi acusada de malufista.

No ano seguinte, cobriu a doença do presidente eleito com informações que contradiziam a tese oficial de que Tancredo estava melhorando. Foi acusada de agourenta e antipatriótica (“Médicos esfriam Tancredo” era a manchete de 16/04).

Nesse mesmo ano, o novo projeto editorial pregava que “não devemos ambicionar as unanimidades, mas sim o reconhecimento da identidade pela diferença”. Com um ímpeto quase juvenil, o texto defendia que “praticar a crítica substantiva (…), contra tudo e contra todos, é obrigação não apenas moral mas política do jornalismo, especialmente em um país que as circunstâncias dotaram tão generosamente de problemas e de possibilidades”.

É bom relembrar essas palavras 30 anos depois, quando acontecem eleições presidenciais e uma Copa do Mundo. Impuseram-se ao jornal novos desafios, como manter a relevância e a qualidade num mundo inundado por informação, mas “apartidarismo”, “crítica” e “pluralidade” ainda são metas a serem perseguidas com afinco.

Mal começou o ano, as acusações já esquentaram. Uns dizem que a Folha torce para que tudo dê errado na Copa, outros que o jornal serve de fornecedor de munição à oposição, enquanto um grupo vê a Redação rendida ao petismo.

Que venham muitas críticas, ajuda valiosa no trabalho de um ombudsman, mas que levem em conta aquilo a que a Folha se propõe.

Valor da publicidade e do leitor

Crítica/Ombudsman – Folha de São Paulo

“A quantidade de propaganda está abusiva, o que desmerece o jornal. Parece que estão mais preocupados com o financeiro do que com o leitor. Falta bom senso”, diz leitor da Folha

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Edição Frankenstein

SUZANA SINGER

Repleto de anúncios, jornal de sábado está bagunçado, com assuntos esticados e acabamento ruim

Quem pega um exemplar de sábado da Folha começa a duvidar de que o jornalismo impresso esteja mesmo em crise. São cadernos que não acabam mais, suplementos extras, reportagens especiais, que deveriam fazer a delícia do leitor, mas têm provocado muita reclamação.

“É irritante ter de organizar os cadernos 1, 2, 3 de cada assunto, todos com anúncios enormes. Não quero ser obrigado a folhear todo o jornal para achar o que me interessa”, diz José Luiz Dias, 62, gerente de vendas em São Paulo.

De fato, os cadernos chegam fora de ordem. “Poder 2” aparece depois de “Esporte”, “Cotidiano 2” está a léguas de distância do “Cotidiano 1” e deveria ganhar um pirulito de recompensa quem consegue encontrar a “Folhinha”.

O encarte dos cadernos tem relação com os horários de fechamento. Não há capacidade na gráfica para rodar todo o jornal à noite. A “Ilustrada” e os suplementos são impressos no começo da tarde -é por isso que, se um artista morre às 16h, seu obituário sai em “Cotidiano” ou em “Mundo”.

“Primeiro Caderno”, “Mercado”, “Cotidiano” e “Esporte” são os produtos quentes, fechados no horário final (às 21h para a edição nacional, à meia-noite para a São Paulo), e neles é possível trocar notícias até a madrugada. Só que há um limite de páginas para a última rodagem. Quando o volume de publicidade é grande, criam-se os cadernos 2, que são impressos às 19h.

A montagem do exemplar é manual: “Mercado 2”, “Cotidiano 2”, “Mundo 2”, impressos em conjunto, formam um bloco. Colocar cada um na sequência ideal, ou seja, depois de “Mercado 1”, “Cotidiano 1”, “Mundo 1”, respectivamente, atrasaria demais a entrega do jornal.

Além de dificultar a leitura, a divisão artificial de assuntos propicia erros de edição. Temas correlatos, que deveriam estar na mesma página, vão parar em cadernos diferentes. Acontece também de assuntos menores serem esticados para preencher as páginas que fecham cedo, enquanto notícias mais importantes são subestimadas.

Para o leitor, resta ainda a dificuldade de encontrar os textos num mar de publicidade. Contando apenas os anúncios que ocupam páginas inteiras, havia, no último dia 26, 82 páginas de propaganda de um total de 154 (53%, sem contar o “Guia de Livros”). No “Primeiro Caderno”, definido por um leitor como a “alma do jornal”, havia 17 anúncios inteiros em apenas 24 páginas.

“A quantidade de propaganda está abusiva, o que desmerece o jornal. Parece que estão mais preocupados com o financeiro do que com o leitor. Falta bom senso”, critica o médico Hélio Teixeira, 69, que recebe a Folha em Uberlândia (MG).

Hélio, como outros leitores, sugere que se concentre a publicidade de imóveis e veículos nos cadernos “Classificados”, mas o fato é que os anunciantes buscam colocações que consideram mais nobres no chamado produto principal.

A edição de ontem estava menor por causa do feriado, mas a do sábado retrasado era um bom exemplo de “jornal Frankenstein”, que, gigantesco e mal-acabado, pode virar um problema para o seu criador.

As reportagens de economia se espalhavam por três cadernos. Apesar de um deles ser dedicado à China, a notícia de que as exportações do país estavam se recuperando ficou em outro caderno. Uma fotografia enorme, de uma ciclista solitária em Guangzhou, ilustrava o texto, embora a venda de bicicletas não fosse citada no texto.

“Mundo 2” tinha grandes reportagens sobre temas irrelevantes, como fabricantes de manequins da Venezuela apostando em versões com mais curvas, os problemas dos criadores de cavalos em Fukushima e a Força Aérea do Peru reativando pesquisas sobre óvnis.

“Poder 2” fez um levantamento sobre o programa Luz para Todos, repetindo praticamente tudo o que havia sido publicado em março.

É ingênuo imaginar que um jornal vá recusar publicidade num momento em que o futuro do impresso é tão sombrio. Mas é necessário discutir alguns limites e, ao mesmo tempo, investir na Redação a fim de lhe dar fôlego para melhorar a qualidade dos “monstrinhos” produzidos aos sábados.

Pornografia ou informação?

Folha de s. Paulo

http://merlinseroticmuses.tumblr.com/“Fui chupada de um jeito maravilhoso (…) Ele desceu bem aos pouquinhos até meu quadril, lambendo minhas coxas, a virilha, se aproximando daquele ponto com pulso próprio. Ao chegar lá, sua língua começou a dirigir os movimentos de meu corpo molhado, propiciando rápidos e rítmicos golpinhos com ela. Circundou meu clitóris com maciez, me beijou os lábios, chupando-os de baixo para cima. (…)”

X de Sexo

A Folha só pensa naquilo

SUZANA SINGERombudsman@uol.com.br@folha_ombudsmanfacebook.com/folha.ombudsman

Obsessão por aumentar a audiência no site faz jornal criar blog anônimo na linha “pornografia de butique”

Na semana em que mais de 600 morreram no Egito, o julgamento do mensalão recomeçou e o dólar bateu recordes, a Folha anunciou a criação do blog “X de Sexo”.

Não dá para viver só de desgraças, não é? Sem dúvida, mas basta dar uma olhada na última invenção do jornal para concluir que se trata, numa avaliação bastante gentil, de um tremendo equívoco.

(A partir daqui, a coluna é para maiores de 18 anos).

“Fui chupada de um jeito maravilhoso (…) Ele desceu bem aos pouquinhos até meu quadril, lambendo minhas coxas, a virilha, se aproximando daquele ponto com pulso próprio. Ao chegar lá, sua língua começou a dirigir os movimentos de meu corpo molhado, propiciando rápidos e rítmicos golpinhos com ela. Circundou meu clitóris com maciez, me beijou os lábios, chupando-os de baixo para cima. (…)”

O extrato é do post de estreia do blog, intitulado “Dia de festa”. Não foi pinçado para provar que se trata de um “pornô de butique com pseudoqualidade literária”. O site é todo assim, uma tentativa de obter uns dez tons de cinza.

O segundo texto, sobre uma mulher “suando” embaixo do chuveiro de tanto se masturbar, também abusa dos detalhes anatômicos na tentativa de excitar a audiência: “a barriga soluçava, o abdômen apertava (…) as pernas esticavam, o peito se estufava, e eu gemi baixinho um aaaa com a boca meio apertada”.

O blog é ilustrado com fotografias que parecem sobras daqueles ensaios de mulheres nuas, pretensamente ousados e sofisticados. Não são nem uma coisa nem outra.

Nem dá para louvar a coragem das autoras do blog, assinado por Ana e Lia, porque são pseudônimos. Ou seja, a descrição de como se deve fazer sexo oral em uma mulher pode ter sido escrita por um redator barbudo e malcheiroso que, àquela hora do dia, deveria estar fazendo um título melhor para “Mundo”.

A Folha não publica textos apócrifos, mas abriu uma exceção nesse caso, segundo a Secretaria de Redação, para preservar a “privacidade das autoras”.

O “X de Sexo”, na avaliação do jornal, não é “pornográfico” e foi criado para “ajudar a compor a diversidade temática de blogs e colunas abrigados no F5, site de amenidades e entretenimento”.

“Não é jornalismo, mas é informação”, afirma a Secretaria de Redação. Informação? O blog não tem qualquer tipo de aconselhamento sexual, noticiário sobre o assunto, discussão de temas considerados tabus ou qualidade literária.

“Parece que o blog não foi feito para quebrar paradigmas, para ajudar as pessoas a sofrerem menos com o sexo. Os posts falam de um modelo ideal, tudo perfeito, coisa de cinema”, diz Lola Benvenutti, 21, formada em letras pela Universidade Federal de São Carlos, garota de programa e blogueira.

Nem vale a pena discutir os limites entre jornalismo e entretenimento. Já que o assunto é sexo, sejamos explícitos: o blog, como todo o F5, é uma tentativa despudorada de aumentar a audiência na rede. Esse “topa tudo por pageviews” só faz mal à marca Folha.

Facebook censura Folha na rede social

Folha de S. Paulo

O Facebook apagou ontem uma publicação na página oficial da Folha na rede (facebook.com/folhadesp). A postagem se referia a uma manifestação do Bloco de Luta pelo Transporte Público, que pede o passe livre, na Câmara Municipal de Porto Alegre.

Os manifestantes, que ficaram acampados por oito dias e deixaram a Câmara na quinta, tiraram fotos nus no local.

Após a divulgação da reportagem no site da Folha, uma publicação com a foto dos manifestantes nus foi feita na página do jornal no Facebook às 15h40 de quinta. Ela foi apagada ontem, e o jornalista responsável teve sua conta na rede suspensa por 24 horas.

O mesmo conteúdo foi ao ar na página do jornal no Google+, rede social concorrente do Facebook, às 15h44 de ontem e não foi apagado.

Procurado, o Facebook disse que não comenta casos específicos e que a postagem permanecerá excluída.

Dono do Jornal Folha de S. Paulo colaborou com a ditadura, diz ex-delegado

Folha de S. Paulo

O ex-delegado da Polícia Civil Cláudio Guerra disse que o empresário Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), publisher da Folha, visitou frequentemente na ditadura militar dependências do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo, um dos principais centros da repressão a opositores do regime.

Em depoimento ao vereador Gilberto Natalini, presidente da Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, ele disse ainda que a Folha emprestou carros e ajudou a financiar os órgãos da repressão na época.

“O Frias visitava o Dops constantemente”, afirmou. “Isso está registrado.” Guerra disse também que o publisher da Folha era “amigo pessoal” do delegado Sérgio Paranhos Fleury, um dos mais ativos agentes da repressão.

Guerra, que publicou no ano passado o livro “Memórias de uma Guerra Suja”, trabalhou para o SNI (Serviço Nacional de Informações) e diz que participou da repressão executando militantes que combateram o regime.

Seu depoimento foi gravado neste mês em Cariacica, no Espírito Santo, onde ele mora atualmente, e foi exibido na terça-feira em sessão pública da Comissão da Verdade da Câmara Municipal.

A direção da Folha nega que a empresa tenha colaborado com a repressão política e que Octavio Frias de Oliveira tenha mantido relações com o delegado Fleury.

Exclusivo para assinantes

Para melhorar a qualidade dos comentários no site, Folha restringe o livre opinar aos pagantes

Zuzana Singer/Ombusdman Folha

 

“Quer dar sua opinião à vontade? Então, pague.” Curto e grosso, esse é o resumo da nova política de comentários no site da Folha.

Desde 29 de janeiro, só os assinantes estão livres para comentar qualquer texto. Os demais internautas podem opinar apenas nas notícias previamente selecionadas pela Redação -e obedecendo a um limite de 20 por dia.

Além disso, observações colocadas por visitantes passam por uma aprovação, o que implica demora na liberação do post.

Na sexta-feira passada, o professor universitário Marcos Brogna, 38, queria fazer uma crítica ao editorial sobre a corrida presidencial, mas foi barrado. “O jornal só quer que os assinantes, aqueles que tendem a ter uma postura menos crítica à própria Folha, debatam suas reportagens, editoriais e colunas”, protestou Brogna.

A restrição aos comentários desagradou especialmente os assinantes do UOL, que podem ler todo o conteúdo da Folha, mas perderam o direito de comentar livremente. “É uma quebra unilateral de contrato, porque o acesso à Folha deveria incluir o comentário, que é um mecanismo fundamental de participação”, escreveu o analista de mídia Renato Silveira, 49, que postava diariamente no site.

A Secretaria de Redação afirma que os comentários não podem ser considerados como parte do conteúdo da Folha, porque são produzidos pelos leitores. O objetivo da mudança seria melhorar a qualidade do que é publicado.

Antes da restrição, o site tinha cerca de 5.000 comentários por dia, o que tornava impossível controlar o que ia ao ar. Embora o jornal ainda não tenha um número fechado, dá para notar que a quantidade de posts caiu bastante.

O nível do debate melhorou, mas está longe do ideal. Basta navegar um pouco para encontrar:

“Mandem ela para a Venezuela para cuidar do Hugo Chávez.” (sobre a médica acusada de provocar mortes na UTI)

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“Falta deixar a barba crescer, perder um dedo e dizer ‘nunca antes nesta cidade’. Haddad, cala a boca e trabalha!” (sobre críticas do prefeito à gestão Kassab)

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“Só se for com a língua.” (sobre Silvio Santos ter brincado que, aos 82 anos, faz sexo “quase todo dia”)

Para aplacar as críticas e justificar essa medida antipática, mas necessária, de restringir os comentários, a Redação precisa se esforçar mais na seleção do que vai ao ar. Não é fácil porque o manto da invisibilidade da internet parece liberar o que há de pior em cada um.

 

SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman