nodebate/análise – Quantos textos escrevemos para avaliar os procedimentos da mídia noticiosa na política. Algumas afirmações merecem ser repisadas, considerando consensos históricos do processo de comunicação. As empresas de comunicação não são imparciais, grandes indústrias da comunicação, têm relações com grupos políticos e dos setores financeiros e econômicos.
A midiatização não diz respeito somente aos interesses de mercado, mas envolve o religioso, o cultural, o ideológico e a construção de visão de mudo, de modo a influenciar uma sociedade inteira para determinadas verdades, que ela mesma organiza e defende, ainda que haja o discurso de liberdade de expressão de seus jornalistas e fontes.
Para qualquer governo deverá ocorrer uma disputa pela verdade e posições políticas em decorrência de lugares diferentes, que cada qual se encontra. Importante analisar que nem todas as empresas de mídias são iguais, com os mesmos fundamentos.
Como exemplo está a poderosa Rede Globo, com perspectiva econômica, financeira e cultural, em outro espectro político a Rede Record, ligada à Igreja Universal do Reio de Deus ou mesmo a Rede Católica, na linha da fé, nesta disputa pelos fiéis, em conformidade com sua ideologia religiosa. Evidentemente, que o econômico e religioso nem sempre estão tão distantes do político como se quer no mundo ideal.
Importante notar que o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro tem como lema, vencedor das eleições, “A família acima de tudo e Deus acima de tudo”, que repetiu intensamente e está implicitamente no seu marketing político, como mantra de uma realidade que convence. Um lema a favor e na luta contra todos e tudo.
Em algum ponto nesta reta haverá curvas, envolvendo caminhos distintos para a governabilidade do capitão reformado e as empresas de comunicação. Algumas se adequando precisamente às propostas do novo governo, umbilicalmente, e outras nem tanto. Para àquelas, portanto, a punição e para outras a premiação.
Recepção ingênua
Acreditar, portanto, na imparcialidade da mídia seria mesmo um atestado de ingenuidade. A comunicação com amplitude de vozes, nas disputas, pode permitir o público definir seu posicionamento político, internamente, na mídia se propagando para diferentes indivíduos, formando antagonismos que levam a efeitos na opinião pública, na qual estão diferentes posicionamentos para um consenso político.
Neste sentido, pode estar a vitória de próprio Bolsonaro, numa disputa em que, por anos a fio, a comunicação jornalística tradicional se mostrou rigorosa com seus princípios políticos conservadores, denunciando governabilidade que não fosse adequada aos interesses majoritários, que une determinados consensos ordenados nesta comunicação.
Entre pontos debatidos, insistentemente, por um pool de jornais e articulistas estão: a negação da importância do Mercosul para o Brasil; a afirmação de que o socialismo gera pobreza, ainda que um discurso aceito pelos mais pobres e incautos; desconstrução de uma América Latina como referência para o Brasil, numa disputa com os Estados Unidos e Europa ricos e poderosos. Bem, na conclusão de que o capitalismo praticado pelos grandes centros financeiros como o único caminho de uma sociedade dita civilizada.
Pode-se somar algumas afirmações midiáticas de que a pobreza é uma questão de origem, em alguns instantes de genética, fazendo relembrar uma visão positivista, de históricos filósofos pesquisadores dos grandes centros da civilização moderna, disseminadores de pensamento global por séculos.
Como resultado disso, paradoxalmente, está um sistema político cíclico, com alterações no tempo.
Bolsonaro e a mídia
O governo de Jair Bolsonaro começa com ataques a veículos tradicionais, para quem não dizem a verdade, de posse de referência à citações bíblicas, outro lugar de comunicação e formação de comportamento e pensamento.
O jornal paulista Folha de S. Paulo está sendo punido pelo presidente eleito, como o próprio veículo enfatiza, no sentido de se adequar, o que pode não ocorrer ao longo do tempo, tornando-se uma disputa entre diferentes grupos de poder.
A lógica histórica não leva a concluirmos que vivemos numa sociedade ideal, em que apenas a verdade e tão somente a verdade é parte do processo comunicativo midiático ou político.
O governo eleito por sua vez apossa de sua verdade, com uso de meios de comunicação aliados à esta verdade proferida, como suporte para dialogar com uma sociedade que se mostra, neste momento, conservadora e afeita ao discurso religioso e familiar, na esteira da verdade repetida.
Somente o futuro poderá dizer o que anuncia a opinião pública para momento de conflitos políticos e ideológicos, inevitáveis para uma sociedade viva.