Eleições na política digital

As últimas eleições foram marcadas pelo poder de influência das mídias digitais, superando os veículos tradicionais na composição da imagem dos candidatos. Mesmo mantendo a capacidade de atribuir valores aos postulantes por cargo público, a grande imprensa sofre com a rapidez e a capacidade de emocionar das mídias digitais, o seu grande poder que a coloca como arma de guerra política.

Na formação de tribos, numa espécie de conversa pessoal ou interpessoal à semelhança da comunidade cultural – de um bairro, por exemplo -, pode levar a decisão de votos para nomes que se repetem no senso comum da rede social.

Com decisões emocionais e rapidamente veiculadas, em tempo real e no calor do debate, muitas vezes sem o conhecimento profundo do nome do candidato, mas de suas qualidades reproduzidas, muitas vezes sem fontes, resultam em consequências posteriores de transformação da política como algo que se resolve no espaço da pseudo-amizade.

Uma sociedade sem comunicação de mídia seria impensada – imagine ficar sem o celular em um só dia? -, revelando a importância dessa mediação, quando se recorria, no passado quase dinossáurico, num tempo não muito distante -, ao jornal para buscar informações, o prazer de ir à banca ou esperar pelo entregador o jornal do dia, acreditando-se confiável para proferir verdades.

As eleições brasileiras de 2022 deverão sofrer mais uma vez impacto das estratégias da comunicação digital, com disputa acirra pela imagem positiva dos candidatos preparados para a disputa no terreno dos bits, com exploração do emocional dos eleitores, à semelhança de uma sociedade que valoriza o consumo – imagem reprodução site Política Crítica.

Na atualidade, o computador ao alcance das mãos, basta a imersão nas páginas online para se inteirar das discussões de posicionamentos dos virtualmente iguais. Acessar páginas indicadas, com links automatizando à pesquisa em torno de um mesmo espaço de pensamento e ciclo de relações em conexão, sem a diversidade de opiniões.

A conversa intensa, com exigência de outras leituras para conhecimento se torna meramente desnecessária, bastando o trabalho imediato de acompanhar o que as tribos relacionadas replicam.

Notoriamente o conhecimento político não se resume a uma conversa rápida, passa também pela capacidade do jornalismo de organizar as informações na própria rede online, com inserção nas próprias comunidades de amigos, bem como as disputas dos candidatos com suas campanhas acessíveis e a procura do internauta eleitor.

Para além disso, há o debate dos candidatos, com apelos emocionais os mais diversos, na tentativa de sensibilizar com atenção a realidade imaginada pelo eleitor.

Na sociedade da comunicação, os produtores de mídia digitais evoluíram ao longo dos últimos e poucos anos. Os recursos eficientes de comunicação como resultado de dados fornecidos pelo próprio público na tradição do consumo, partir dos acessos constantes da população.

São mensagens que antecipam a decisão para a escolha do voto, na análise de dados de comportamento instantâneos para gigantes arquivos de todos os moradores de todos os países. O marketing político, portanto, não se resume ao espaço físico das ruas, mas nos bits que organizam uma nova biologia para a existência e conhecimento humano.

Exemplos na política para a decisiva participação da mídia digital não faltam, ganham destaque Donald Trump nos Estados Unidos e Jair Bolsonaro no Brasil. Nesta direção, a disputa eleitoral de 2022 passa por estes dispositivos, cujos dados são fornecidos pelo eleitor previamente, que tem como responsabilidade saber distinguir o real do apenas imaginário e emocional.

Autor: Antonio S. Silva

Jornalista, doutor pela UnB e professor da (UFMT, com mestrado pela PUC/SP e Docente no curso de Jornalismo da UFMT. Em essência, acreditamos que é necessário o diálogo para construirmos, democraticamente, um país melhor.

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